sexta-feira, março 30, 2007

No metrô...

Certo dia da semana passada eu estava indo trabalhar e viajava no metrô. Na estação Santa Cecília entrou um japonês idoso que sentou-se no assento cinza, o reservado aos passageiros com necessidades especiais. O japonês era franzino, curvado, tímido, andava vagarosamente de bengala. Na próxima estação, República, adentrou um outro idoso, ocidental, um tipo italiano, bem alto, usava óculos e era bem humorado, que chegou anunciando: "quero sentar nesse assento reservado aí só pra fazer amizade com quem já está sentado!"
Viu o japonês, sentou-se ao seu lado e começou:
-Kon´nichi-wa, ogenki-desuka? - perguntou
-Hai, domo. - respondeu o japonês afirmativamente, e continuou...
-Kyoo, atsui-desune.
-Hai, sugoku atsui-desune.
Eu estava sentada na janela oposta, mas ao ouvir aquela conversação e presenciar aquela cena tão inusitada, me enchi de interesse e comecei a acompanhar a conversa com olhos curiosos. Percebendo isso, o idoso alto, sorriu para mim e disparou:
-Nihongo, wakarimasuka?
Não respondi nada, apenas lhe sorri afirmativamente.
E ele continuou todo o seu colóquio, falando de tempo, da cidade, do metrô que andava lotado e que as pessoas não lhes cediam mais assentos. Chegou a Estação Sé e ambos iam descer. O idoso mais alto, saiu andando primeiro, logo parou e aguardou o outro, que o seguia vagarosamente, pois sua bengala o impedia de andar mais rápido. Eu acompanhava tudo olhando-os saírem do vagão, um esperou pelo outro num sinal de "vamos descer pela escada rolante juntos?"
Achei lindo! Foi uma cena singela, porém cheia de vida, de amizade, de companheirismo. O trem partiu e na minha viagem mental pus-me a pensar que quando chegamos naquela idade avançada, o que deve valer na vida senão viver da melhor maneira todos os pequenos instantes, seja conversando com estranhos, seja sendo solidário e companheiro, pois a contagem regressiva da vida nos dá a sensação de que só temos mais aquele tempinho incerto para curtir.
Ver ambos descerem rumo à escada rolante para fazerem a baldeação juntos no meio desse formigueiro desorganizado e neurótico que é a Estação Sé, foi algo tão humanamente inusitado, que ficou ecoando na minha memória por dias...

1 Comentários:

Blogger Vinicius disse...

Que cena maravilhosa, cenas assim é que nos fazem acreditar, apesar de todas as dores do mundo, na Vida e em como podemos ter a esperança de um mundo cada dia melhor. Gentileza gera gentileza. Obrigado por publicar esse post.

9/11/07 11:24  

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