Dia 30 de dezembro de 2006. Desci do ônibus e voltei caminhando sob a fina (mas molhada) chuva. Cobri-me com o capuz da jaqueta e talvez devesse até abrir o guarda-chuva. Mas eu não quis. Não era tanto por preguiça... ou era...? Não. Eu queria mesmo era me deixar tomar a chuvinha. Queria lavar a alma, esquecer as rusgas, as arestas mal-aparadas, os amores não-correspondidos, as implicâncias. Mas ao mesmo tempo queria que a chuva me molhasse com os sentimentos agradáveis e refrescantes de tudo o que foi de melhor. Apenas duas quadras de caminhada me fizeram passar um filme do meu ano de 2006. Ano em que eu me formei locutora e ganhei um registro profissional na Carteira de Trabalho. Parece até besteira, mas ver um sonho sendo estampado... não tem preço! Agora é continuar a perseguir o sonho que apenas começou... Conheci rádio nos bastidores. Estagiei numa, visitei tantas outras... E passei a admirar ainda mais esse veículo de comunicação, ao conhecer os donos das vozes, meus ídolos e companheiros do dia-a-dia, deles, dos locutores que permitimos freqüentar nossa casa enquanto tomamos café, nos trocamos pra ir trabalhar, nos trazem informação, entretenimento e muito conforto pela companhia. Saber que tais vozes têm corpo e alma, saber que têm sonhos e imaginações, que transmitem alegria por sentirem prazer na performance da profissão escolhida por amor, é sobretudo muito fascinante, pois os ídolos não são meras figuras abstratas, têm data de nascimento, vão ao toilet para necessidades fisiológicas, têm dores de cabeça, choram e vivem a vida... São seres humanos! Os que a gente mais admira! Obrigada ao Ricardo Sam e Nilson Nil (http://www.radiofenix.net/), que me deram a oportunidade de começar do zero e conhecer uma rádio por dentro. Agradeço à Ana Martins (http://www.mixfm.net/), que me ensinou tanto de tantas coisas... à Sarah Regina(http://www.sarahregina.com.br/), que reencontrei após uma década, graças ao rádio, e que sempre me dá incessante apoio. Miriam Ramos, Fernando Gomes e Deborah Ízola, mestres-mor. Obrigada também a tantos outros comunicadores que eu tanto admiro e me permitiram conhecer seus trabalhos de tão perto, fazendo tudo com tanto amor e dedicação: Sombra, Domênico Gatto, Silvio Ribeiro, Rogério Morgado, Monika Leão, Beto Keller, Dimy, Benjamin Back, RG02, Portuga, Mano e Mano Cover, Cláudio Motta, Bá, Aline, Harley... profissionais cativantes(http://www.97fm.com.br/) mostrando seu trabalho de perto, de braços bem abertos. Foi sublime 2006! Amei poder chegar tão perto do rádio. 2006. Ano em que conheci Victor Meirelles. Escritor, colunista, designer gráfico, analista de sistemas, etc, etc, um multimídia por excelência, de quem virei fã ao visitar sua coluna semanal (http://www.clicerechim.com.br/colunistas-victor-meirelles.htm). Lá, ele faz um colunismo bem humorado, com textos bem elaborados, fotos criativas, tiradas que trazem uma presença de espírito fabulosa, e com temas tão recorrentes quanto polêmicos, e opiniões claras, contundentes, autênticas. Sua coluna tornou-se ponto de referência para minhas reflexões! Virou meu ídolo! Com nossos longos e incessantes colóquios e articuladas deliberações, ganhei diferentes visões de mundo, constatei muitos outros em comum, ganhei músicas novas em meu repertório, dei boas gargalhadas sobre outras tantas excentricidades mundanas, mas sobretudo conheci um ídolo com alma, que tem sensibilidade, que vive os sentimentos humanos de forma única, autêntica, uma pessoa feliz e que irradia felicidade aos que lhe cercam. Isso tudo fica transparente em seus textos... únicos, inteligentes, brilhantes, cativantes! E pasmem: escreveu sobre mim. Tão inesperado quanto surpreendente. Nunca pensei que ele me enxergasse assim... (coluna de 30/12/2006). (Vick exagerou!) Mas feliz foi pouco. Me senti lisonjeada... embriagada... lia e relia por não acreditar: "euzinha", na página de meu ídolo! (Arrasei) Melhoria significante: passei a verdadeiramente impor limites. Me surpreendi como cheguei longe. Arranjei umas farpas aqui e acolá com gente querida, próxima, e amada, em nome de fazer-me entender até onde vai o limite de outrem para comigo. Isso se faz necessário, sob pena de, pela cerimônia, ficarmos calados, ruminando o amargor de uma ofensa, e decididamente não levo mais desaforo pra casa e nem quero ter câncer no futuro. Isso mesmo! Impor limites é crucial para a convivência pacífica em sociedade humana. Respeito. É bom. Altamente saudável e recomendável!
Coisas inesperadamente boas: recompor uma amizade ferida. Um vaso de porcelana chinesa rachado jamais será o mesmo, ainda que colando com Super-Bonder. Pode ficar esteticamente comprometido, mas poderá voltar mais firme. Perdão é bom doar, sempre que o tempo nos libertar. E quando há redenção. Por falar em redenção, amizade, lealdade... O Caçador de Pipas (The Kite Runner - Khaled Hosseini) - simplesmente eu li no final do ano, e foi muito marcante pelo seu relato tão cativante quanto realístico: talvez o melhor-livro-mais- apaixonante de todos os tempos!! Surpreendente, instigante, humano, inesquecível! Aqui, há uma história, uma estória, vários personagens, e dentre eles, certamente há aquele com o qual nos identificaremos de imediato e também oscilaremos o sentimento, querendo ser outro... Sobretudo, os sentimentos e as sensações que despertam em nós... em mim... são coisas indescritíveis. Para se ler e para se guardar para as próximas gerações. Perdi minha avó materna. Faleceu aos 94 anos, cheia de amor pela vida. Ela, com quem passei uma noite no hospital falando de tantas coisas maravilhosas, me contou com tanto carinho e intimidade o quanto é bom ser mãe, avó e bisavó. Eu a amava. Mas pouco convivia. Entretanto, naquela noite eu aprendi que amor verdadeiro é assim, agente não precisa estar todos os dias, vendo, conversando, é algo tão transcendental que permanece ao longo da vida, e quando menos se espera, o sentimento está ali, tão sincero, simples, generoso, incondicional... No dia do enterro dela, eu soube o quanto amo minha mãe, pois vê-la sofrer a perda da própria mãe, chorando sôfrega, me fez entender o que é esse sentimento de "ser" mãe... Em 2006 eu ainda não "fui", mas aprendi muito de perto o que é "ser". Foi também após a viuvez de meu avô, hoje com 97 anos, que tive uma adorável tarde de colóquio com o próprio, que ama tanto a vida e nos contou que ficou triste com o comentário de seu médico que lhe garantiu chegar aos 100 anos tranquilamente... ele disse: "Poxa... fiquei triste... para 100 anos só me faltam 3! E passa muito rápido!" Isso é amor à vida. É ter paixão por viver.
Com tudo isso, aprendi a amar melhor. Amar meus pais e meus irmãos e poder dizer isso a eles, fazer declaração de amor. Minha sobrinha, Faby, de 6 anos, que recentemente começou a ler e a escrever, grafou em uma papeleta seu nome e telefone, e me deu: "tia, me liga! eu te amo!" Simples assim.
Tudo são flash-backs do ano que se finda, deixando um saldo muito positivo na balança. Foi um ano surpreendentemente ótimo. No final de 2005 eu desejei tudo de bom para mim, mas nem imaginei o quanto. Foi excelente! Absolutamente irrepreensível. Obrigada 2006!!
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